Náufrago

Minha co-pilota partiu ontem à noite pra Marte.

Disse ela que ia tão longe pra por a cabeça no lugar, repensar a vida.

E eu fiquei aqui, sozinho nesse barco a deriva no meio dum nevoeiro.

Como ela levou toda a energia consigo,

Não tem mais luz, o motor apagou e a bússola despirocou.

Nem parece que ainda ontem eu curtia o vento de braços abertos sobre a proa, todo abobalhado feito o Leonardo Di Caprio em Titanic.

Mas agora o frio é glacial.

E começou uma baita tempestade.

Preciso de um remo,

preciso de Nemo (o capitão de Viagem ao Fundo do Mar)

preciso dum farol, 

preciso de rumo pra achar um porto seguro.

Preciso também duma garrafa de cachaça,

Pra começar a achar graça

desta grande desgraça.

Poxa, de repente fiquei precisando de tantas coisas.

De consolo.

Dum amigo,

De colo, dum abrigo.

Na verdade, acho que o que eu preciso mesmo

é esquecer que um dia...  

Foto e Texto : João Roberto Laque